


A observação foi realizada na Escola Luiz Viana Filho, localizada à rua Horácio Fernandes, s/n, bairro São Francisco, em Irecê. A escola pertence à rede municipal de educação. possui 34 funcionários, sendo 19 professores. Tem 08 salas de aula, com 16 classes, nos turnos matutino e vespertino. Atende estudantes da comunidade, nos grupos de 06 a 10 anos, e 5ª a 8ª série.
A escola conta com boa estrutura física, espaço para jogos, brincadeiras e atividades culturais, quadra de esportes; salas amplas, bem ventiladas e iluminadas. No entanto, o bairro não é pavimentado e há muita poeira. É considerado o bairro mais carente do município. Além da carência de condições sanitárias, não-pavimentação e índice de violência elevado, a comunidade também é marcada por famílias desestruturadas, violência doméstica e pelo descaso das autoridades municipais e da falta de aplicabilidade das políticas públicas.
São crianças e adolescentes que evidenciam na sala um cotidiano marcado pela ausência dos pais, pelo contato diário com cenas de violência e pelos modelos de formação familiar, distanciados dos modelos considerados comuns. É observável que os jovens estão adaptados e até naturalizaram o convívio com a agressividade e o descaso que presenciam.
A turma observada é de 5ª série, ou grupo 11. Alunos da Professora Laudicéia, de português. Esta leciona há 10 anos, formada em magistério. Os desafios cotidianos da aprendizagem são as lacunas deixadas pela alfabetização, evidenciadas pelas dificuldades em aprender, sobretudo com a escrita, a leitura e a compreensão de textos. Além, é claro, da ausência de criticidade. Todavia, os contextos social e econômico em que os educandos estão inseridos marcam o distanciamento entre família e a escola, o convívio com as drogas e a pobreza q que estas famílias se sujeitam.
Apesar de tamanhas barreiras, a escola é vista como um ponto de referência na comunidade. É o local onde as crianças sentem-se alimentadas, atendidas, acarinhadas e onde podem ter expectativas de um futuro melhor. A rede municipal reconhece que a escola necessita de atenção e investimentos para a melhoria de seus serviços. Assim, há um esforço para a adequação da estrutura física e para a aquisição de novos aparelhos, que permitam o acesso a informações e a busca pela otimização das aulas. Destarte, a escola dispõe de retroprojetores, acesso à internet pelo professor, vídeo, DVD e a possibilidade de uso de câmeras e datashow, quando requisitados.
Embora tenha recursos tecnológicos limitados, pode-se considerar que há um esforço e uma preocupação da comunidade escolar para a continuidade desse processo.
Existe na escola um Projeto Pedagógico. E ainda projetos interdisciplinares, tematizados pelo letramento, incentivo à leitura e escrita e diminuição da indisciplina. O que está em andamento é uma gincana, tematizada pela leitura. A participação da disciplina de português é o maior enfoque, por meio do incentivo aos alunos para toda a produção escrita. A formação do professor também é valorizada. Semanalmente, ainda que com dificuldades, ocorrem momentos de estudo com a coordenação. Vê-se também a realização semanal de planejamento de aulas e atividades.
A título de observação minha, como educadora e como pessoa envolvida com as questões sociais, posso destacar que o ambiente afugenta muita gente, sobretudo os mais sensíveis a si mesmos, e não ao outro. Nem todos gostam de empenhar seus esforços onde eles são necessários. Na maioria das vezes, as pessoas preferem um trabalho mais calmo e um caminho cujos espinhos já começaram a ser retirados. O maior problema da comunidade, bem como da escola observada, é o problema das comunidades pobres por todo o Brasil: as pessoas são menosprezadas pela incompetência administrativa e pela falta de vontade. Na comunidade São Francisco, que em Irecê é tratada com receio e distanciamento pelos demais, conhecida como Malvinas, a educação é mais uma das políticas públicas que não se efetivam, nem são vistas com seriedade. As famílias sofrem. E, como diria Gilberto Dimenstein, em O Cidadão de Papel, a infância e adolescência são os elos mais fragéis da sociedade. Ainda há muito a se conquistar, e não tratamos aqui de recursos tecnológicos ou de estrutura física, mas há muito a ser buscado em potencial humano. Ainda, como tenho observado semana após semana, as pessoas que se envolvem com educação na escola são grandes heróis que travam uma batalha silenciosa e cotidiana pelo presente e pelo futuro de seus jovens aprendizes.
Por Ana Karina Moitinho. (www.anakarinamoitinho.blogspot.com)
Letras UNEB/07
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