sexta-feira, 24 de agosto de 2007

“ BEM NO FUNDO ”

“ No fundo, no fundo,
Bem lá no fundo,
A gente gostaria
De ver nossos problemas
Resolvidos por Decreto.

A partir desta data,
Aquela mágoa sem remédio
É considerada nula
E sobre ela - silêncio perpétuo.

Extinto por lei todo o remorso,
Maldito seja quem olhar para trás,
Lá prá trás não há nada,
E nada mais.

Mas os problemas não se resolvem,
problemas têm família grande,
E aos domingos, saem todos passear.
O problema, sua senhora
E outros pequenos probleminhas.” (autor desconhecido, pelo menos por mim)

Diário de uma observadora de classe




A observação foi realizada na Escola Luiz Viana Filho, localizada à rua Horácio Fernandes, s/n, bairro São Francisco, em Irecê. A escola pertence à rede municipal de educação. possui 34 funcionários, sendo 19 professores. Tem 08 salas de aula, com 16 classes, nos turnos matutino e vespertino. Atende estudantes da comunidade, nos grupos de 06 a 10 anos, e 5ª a 8ª série.
A escola conta com boa estrutura física, espaço para jogos, brincadeiras e atividades culturais, quadra de esportes; salas amplas, bem ventiladas e iluminadas. No entanto, o bairro não é pavimentado e há muita poeira. É considerado o bairro mais carente do município. Além da carência de condições sanitárias, não-pavimentação e índice de violência elevado, a comunidade também é marcada por famílias desestruturadas, violência doméstica e pelo descaso das autoridades municipais e da falta de aplicabilidade das políticas públicas.
São crianças e adolescentes que evidenciam na sala um cotidiano marcado pela ausência dos pais, pelo contato diário com cenas de violência e pelos modelos de formação familiar, distanciados dos modelos considerados comuns. É observável que os jovens estão adaptados e até naturalizaram o convívio com a agressividade e o descaso que presenciam.
A turma observada é de 5ª série, ou grupo 11. Alunos da Professora Laudicéia, de português. Esta leciona há 10 anos, formada em magistério. Os desafios cotidianos da aprendizagem são as lacunas deixadas pela alfabetização, evidenciadas pelas dificuldades em aprender, sobretudo com a escrita, a leitura e a compreensão de textos. Além, é claro, da ausência de criticidade. Todavia, os contextos social e econômico em que os educandos estão inseridos marcam o distanciamento entre família e a escola, o convívio com as drogas e a pobreza q que estas famílias se sujeitam.
Apesar de tamanhas barreiras, a escola é vista como um ponto de referência na comunidade. É o local onde as crianças sentem-se alimentadas, atendidas, acarinhadas e onde podem ter expectativas de um futuro melhor. A rede municipal reconhece que a escola necessita de atenção e investimentos para a melhoria de seus serviços. Assim, há um esforço para a adequação da estrutura física e para a aquisição de novos aparelhos, que permitam o acesso a informações e a busca pela otimização das aulas. Destarte, a escola dispõe de retroprojetores, acesso à internet pelo professor, vídeo, DVD e a possibilidade de uso de câmeras e datashow, quando requisitados.
Embora tenha recursos tecnológicos limitados, pode-se considerar que há um esforço e uma preocupação da comunidade escolar para a continuidade desse processo.
Existe na escola um Projeto Pedagógico. E ainda projetos interdisciplinares, tematizados pelo letramento, incentivo à leitura e escrita e diminuição da indisciplina. O que está em andamento é uma gincana, tematizada pela leitura. A participação da disciplina de português é o maior enfoque, por meio do incentivo aos alunos para toda a produção escrita. A formação do professor também é valorizada. Semanalmente, ainda que com dificuldades, ocorrem momentos de estudo com a coordenação. Vê-se também a realização semanal de planejamento de aulas e atividades.
A título de observação minha, como educadora e como pessoa envolvida com as questões sociais, posso destacar que o ambiente afugenta muita gente, sobretudo os mais sensíveis a si mesmos, e não ao outro. Nem todos gostam de empenhar seus esforços onde eles são necessários. Na maioria das vezes, as pessoas preferem um trabalho mais calmo e um caminho cujos espinhos já começaram a ser retirados. O maior problema da comunidade, bem como da escola observada, é o problema das comunidades pobres por todo o Brasil: as pessoas são menosprezadas pela incompetência administrativa e pela falta de vontade. Na comunidade São Francisco, que em Irecê é tratada com receio e distanciamento pelos demais, conhecida como Malvinas, a educação é mais uma das políticas públicas que não se efetivam, nem são vistas com seriedade. As famílias sofrem. E, como diria Gilberto Dimenstein, em O Cidadão de Papel, a infância e adolescência são os elos mais fragéis da sociedade. Ainda há muito a se conquistar, e não tratamos aqui de recursos tecnológicos ou de estrutura física, mas há muito a ser buscado em potencial humano. Ainda, como tenho observado semana após semana, as pessoas que se envolvem com educação na escola são grandes heróis que travam uma batalha silenciosa e cotidiana pelo presente e pelo futuro de seus jovens aprendizes.



Por Ana Karina Moitinho. (www.anakarinamoitinho.blogspot.com)

Letras UNEB/07

domingo, 19 de agosto de 2007

LÍNGUA PORTUGUESA

MOÇAMBIQUE
Área: 799.390 km2
População: 19,4 milhões de habitantes (2005)
Densidade populacional: 24,3 hab./km2 (2005)
Designação oficial: República de Moçambique
Chefe de Estado: Armando Emílio Guebuza (desde Fevereiro de 2005).
Presidente da Assembleia da República: Eduardo Joaquim Mulembwe
Primeira-ministra: Luísa Dias Diogo.

Ministra dos Negócios Estrangeiros e Cooperação: Alcinda António de Abreu
Data da Constituição: 30 de Novembro de 1990; alterada em 1996 e 2004.
Principais Partidos Políticos: Frente de Libertação de Moçambique (Frelimo), no Governo; Resistência Nacional de Moçambique (Renamo), principal partido da oposição. Eleições legislativas e presidenciais previstas para Dezembro de 2009.
Capital: Maputo: 1.661 mil habitantes; inclui Matola. (2004)
Outras cidades importantes: Beira; Nampula; Chimoio; Nacala-Porto; Quelimane; Tete; Xai-Xai; Pemba; Inhambane.
Religião: Há cerca de 5 milhões de cristãos, a maioria dos quais aderente da Igreja Católica Romana, e 4 milhões de muçulmanos.
Língua: A língua oficial é o português. Há numerosas línguas nacionais, como o Lomué, Makondé, Shona, Tsonga e Chicheua.
Unidade monetária: Metical (MZM).
Página Oficial do Governo:
www.mozambique.mz
Fontes: The Europa World Yearbook 2005 The Economist Intelligence Unit (EIU) - Country Report November 2005 EIU Country Profile 2005 INE – Instituto Nacional de Estatística de Moçambique.



ANGOLA
Área: 1 246 700 Km2
População: 13,9 milhões de habitantes (estimativa 2004)
Densidade populacional: 11,1 hab. /Km2 (2004)
Designação Oficial: República de Angola
Chefe de Estado: José Eduardo dos Santos (desde Setembro de 1979)
Primeiro-ministro: Fernando da Piedade Dias dos Santos
Data da actual Constituição: O MPLA adoptou uma Constituição de Independência em Novembro de 1975, alterada em Outubro de 1976, Setembro de 1980, Março de 1991, Abril e Agosto de 1992 e Novembro de 1996.
Principais Partidos Políticos: O MPLA – Movimento Popular de Libertação de Angola, detém a maioria parlamentar, com 129 lugares. A UNITA – União Nacional para a Independência Total de Angola ocupa 70 lugares e diversos partidos minoritários estão também, representados na Assembleia Nacional. As últimas eleições legislativas e presidenciais realizaram-se em Setembro de 1992.
Capital: Luanda, 3 milhões de Habitantes (1998).
Outras cidades importantes: Huambo, Lobito, Cabinda, Benguela, Lubango, Malange.
Religião: Grande parte da população pratica religiões locais; no entanto, a maioria é cristã e aderente da Igreja Católica Romana.
Língua: A língua oficial é o Português, mas são falados outros idiomas, sobretudo, Umbundo, Quimbundo, Quicongo e Tchokwe.
Unidade monetária: Kwanza (Kz).
Página Oficial da Embaixade de Angola em Portugal:
www.embaixadadeangola.org
Ministério das Relações Exteriores:
www.mirex.ebonet.net
The Europe World Yearbook 2005 The Economist Intelligence Unit (EIU) – Country Outlook September 2005 EIU Country Profile 2005 Banco de Portugal – Boletim Estatístico de Novembro de 2005.



sábado, 11 de agosto de 2007


Eu sei, mas não devia

Eu sei que a gente se acostuma. Mas não devia.
A gente se acostuma a morar em apartamento de fundos
e a não ter outra vista que não seja as janelas ao redor.

E porque não tem vista, logo se acostuma a não olhar para fora.
E porque não olha para fora logo se acostuma a não abrir de todo as cortinas.
E porque não abre as cortinas logo se acostuma acender mais cedo a luz.
E a medida que se acostuma, esquece o sol, esquece o ar, esquece a amplidão.

A gente se acostuma a acordar de manhã sobressaltado porque está na hora.
A tomar café correndo porque está atrasado.
A ler jornal no ônibus porque não pode perder tempo da viagem.
A comer sanduíche porque não dá pra almoçar.
A sair do trabalho porque já é noite.
A cochilar no ônibus porque está cansado.
A deitar cedo e dormir pesado sem ter vivido o dia.

A gente se acostuma a abrir o jornal e a ler sobre a guerra.
E aceitando a guerra, aceita os mortos e que haja número para os mortos.
E aceitando os números aceita não acreditar nas negociações de paz,
aceita ler todo dia da guerra, dos números, da longa duração.

A gente se acostuma a esperar o dia inteiro e ouvir no telefone: hoje não posso ir.
A sorrir para as pessoas sem receber um sorriso de volta.
A ser ignorado quando precisava tanto ser visto.
A gente se acostuma a pagar por tudo o que deseja e o de que necessita.
A lutar para ganhar o dinheiro com que pagar.

E a ganhar menos do que precisa.
E a fazer filas para pagar.
E a pagar mais do que as coisas valem.
E a saber que cada vez pagará mais.
E a procurar mais trabalho, para ganhar mais dinheiro, para ter com que pagar nas filas que se cobra.

A gente se acostuma a andar na rua e a ver cartazes.
A abrir as revistas e a ver anúncios.
A ligar a televisão e a ver comerciais.
A ir ao cinema e engolir publicidade.
A ser instigado, conduzido, desnorteado, lançado na infindável catarata dos produtos.
A gente se acostuma à poluição.

As salas fechadas de ar condicionado e cheiro de cigarro.
A luz artificial de ligeiro tremor.
Ao choque que os olhos levam na luz natural.
Às bactérias da água potável.
A contaminação da água do mar.
A lenta morte dos rios.

Se acostuma a não ouvir o passarinho, a não ter galo de madrugada, a temer a hidrofobia dos cães,
a não colher fruta no pé, a não ter sequer uma planta.
A gente se acostuma a coisas demais para não sofrer.

Em doses pequenas, tentando não perceber, vai se afastando uma dor aqui,
um ressentimento ali, uma revolta acolá.
Se o cinema está cheio a gente senta na primeira fila e torce um pouco o pescoço.
Se a praia está contaminada a gente só molha os pés e sua no resto do corpo.

Se o trabalho está duro, a gente se consola pensando no fim de semana.
E se no fim de semana não há muito o que fazer a gente vai dormir cedo
e ainda fica satisfeito porque tem sempre sono atrasado.

A gente se acostuma para não se ralar na aspereza, para preservar a pele.
Se acostuma para evitar feridas, sangramentos, para esquivar-se
da faca e da baioneta, para poupar o peito.
A gente se acostuma para poupar a vida que aos poucos se gasta e, que gasta,
de tanto acostumar, se perde de si mesma.

marina colasanti

Marina Colasanti

Sexta-feira à noite
Os homens acariciam o clitóris das esposas
Com dedos molhados de saliva.
O mesmo gesto com que todos os dias
Contam dinheiro, papéis, documentos
E folheiam nas revistas
A vida dos seus ídolos.

Sexta-feira à noite
Os homens penetram suas esposas
Com tédio e pénis.
O mesmo tédio com que todos os dias
Enfiam o carro na garagem
O dedo no nariz
E metem a mão no bolso
Para coçar o saco.

Sexta-feira à noite
Os homens ressonam de borco
Enquanto as mulheres no escuro
Encaram seu destino
E sonham com o príncipe encantado.

terça-feira, 3 de julho de 2007

INSCRIÇÃO PARA UMA LAREIRA
A vida é um incêndio: nela dançamos, salamandras mágicas
Que importa restarem cinzas se a chama foi bela e alta?
Em meio aos toros que desabam,cantemos a canção das chamas!
Cantemos a canção da vida,na própria luz consumida...
Mário Quintana

Eu escrevi um poema triste

E belo, apenas da sua tristeza.

Não vem de ti essa tristeza

Mas das mudanças do Tempo,

Que ora nos traz esperanças

Ora nos dá incerteza...

Nem importa, ao velho Tempo,

Que sejas fiel ou infiel...

Eu fico, junto à correnteza,

Olhando as horas tão breves...

E das cartas que me escreves

Faço barcos de papel!

(A Cor do Invisível - mário quintana)